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Diminuindo a disparidade no letramento digital para requerentes de asilo no México

MELANIE STANEK  |  23 JUNHO 2021  |  EDIÇÃO 15  |  TRADUZIDO DO INGLÊS

Melanie Stanek - ODW Lab in Tijuana.HEIC

Imagem: One Digital World Lab em Tijuana. Cortesia da autora.

Muito antes da COVID-19 transformar o mundo em virtual, havia uma divisão digital na educação, especialmente em contextos não formais e de emergência. Minha amiga e colega Casey Myers entendeu isso. Em 2017, Casey passou um ano voluntariando para a Movement on the Ground, uma ONG holandesa que fornece educação e serviços sociais a alguns dos milhares de refugiados morando nos campos de refugiados de Kara Tepe e Moria na Grécia, no coração da crise de refugiados europeia. Refugiados do Afeganistão, Síria, Iraque, Camarões e outros países foram forçados a deslocar completamente suas vidas. Uma pesquisa simples mostrou uma história em comum: todas as pessoas que Casey conheceu nos campos queriam aprender inglês para que pudessem conseguir emprego. Mas a maioria deles nunca havia nem mesmo ligado um computador, que dirá aprender a digitar, buscar na internet, ou usar plataformas digitais de aprendizado de línguas. E mesmo assim esperava-se que eles reunissem documentação, procurassem empregos e se integrassem na sociedade digital, tudo isso sem nunca terem sido ensinados.

 

Algumas vezes as melhores soluções são as mais simples. Na Grécia, a solução de Casey foi construir um laboratório de informática dentro do campo e então treinar os participantes em tudo, desde construir computadores até digitação, usar a internet, escrever currículos e criar contas de e-mail, e se conectar pelo Zoom. Em 2019, Casey voltou à Grécia para lançar um curso piloto de letramento digital em Samos, Grécia. Mais de 400 mulheres concluíram esse curso e desenvolveram as habilidades necessárias para conectarem-se na esfera digital. Enquanto algumas ainda estão na Grécia, esperando reinstalação, elas podem usar parte de seu tempo para continuar fazendo cursos on-line e se comunicar com amigos e família ao redor do mundo.

 

Em média, um refugiado ou asilado leva sete anos para se integrar ao seu novo ambiente após a reinstalação. Mas essa estatística não leva em conta o tempo e esforço que um requerente de asilo emprega para se tornar refugiado ou asilado – um status legal conferido pela ACNUR ou agências governamentais. Nos Estados Unidos e México, milhares de requerentes de asilo estão atualmente fugindo de situações econômicas e políticas deteriorantes na América Central e do Sul – particularmente El Salvador, Honduras, Guatemala e Venezuela. A maioria deles precisa deixar o país às pressas, após terem sido ameaçados ou sofrido violência extrema. Eles viajam a pé ou de ônibus até a fronteira EUA-México, onde pretendem pedir por asilo e serem recebidos nos EUA. Muitos já têm família ou amigos próximos vivendo lá.

 

Infelizmente, a realidade se prova diferente. No último ano, os Estados Unidos invocaram uma medida de saúde pública da década passada conhecida como Title 42 que dá ao governo poder de emergência para expulsar todos os novos requerentes de asilo, a despeito da condenação dos oficiais de saúde pública. Depois de passar semanas – ou meses – sob o risco de sequestro, desidratação, e outros perigos no caminho para a fronteira, os requerentes de asilo são recebidos com um “vão embora”. Em resposta, milhares deles construíram acampamentos improvisados em lugares como estacionamentos e parques ao longo da fronteira EUA-México, determinados a passar para os EUA assim que as coisas “abrirem”. Mas desinformação, exposição a clima severo, e extorsão ou sequestro por gangues locais fazem essa situação de vida muito difícil e perigosa.

 

Comunidades locais estão construindo abrigos para receber os migrantes temporariamente, mas eles ficaram cheios rapidamente. Muitas pessoas estão esperando no México há mais de seis meses, alguns até por um ano e meio. E enquanto esperam pela abertura da fronteira, eles não podem trabalhar legalmente e sustentar suas famílias. Não há muitas opções.

 

Casey fundou a One Digital World em resposta a essa crise acontecendo na nossa porta. Somos um grupo de educadores e defensores apaixonados pelos direitos dos refugiados, e a única organização sem fins lucrativos na fronteira, trabalhando na Califórnia e no México, a fornecer educação digital para requerentes de asilo. Até agora, construímos três laboratórios de informática dentro das comunidades de abrigos no norte do México e acabamos de concluir nosso primeiro curso de letramento digital de cinco semanas para os residentes. Com computadores e acesso à internet, os requerentes de asilo podem não somente adquirir letramento digital e aprender inglês, mas também conseguem acesso a serviços essenciais como saúde pública, moradia, e aconselhamento legal gratuito. Nossa presença em campo nos permitiu conectar requerentes de asilo com fornecedores de serviços nos EUA com o objetivo de reduzir o tempo que leva para se integrar uma vez que um requerente de asilo se torna um “asilado” (semelhante ao status de “refugiado”).

 

Esperamos por um futuro onde requerentes de asilo tenham todas as informações e habilidades necessárias para ganharem suas causas e se integrarem com sucesso em um novo país. Acesso digital é uma peça essencial na integração – uma que é frequentemente ignorada. Ao trazer computadores e internet aos requerentes de asilo, estamos não apenas possibilitando futuras integrações; estamos fornecendo acesso a uma rede mais ampla de apoio de asilados e membros da comunidade, o que pode mudar o curso de suas vidas.

 

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Melanie Stanek

Melanie Stanek é estudante de pós-graduação da Kroc School of Peace Studies em San Diego, California e contribuidora da One Digital World. Ela acredita que ter acesso à educação de qualidade é um direito humano e que nenhum ser humano é ilegal. Você pode segui-la no Twitter @mellymary e saber mais sobre One Digital World em onedigitalworld.net.

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This article is part of the issue ‘Empowering global diasporas in the digital era’, a collaboration between Routed Magazine and iDiaspora. The opinions expressed in this publication are those of the authors and do not necessarily reflect the views of the International Organization for Migration (IOM) or Routed Magazine.

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